Com presença de ex-ministro, CIAAT lança o projeto “Acelerador de Território”

O Centro de Informação e Assessoria Técnica (CIAAT), no dia 06 de Março, apresentou o projeto “Acelerador de Territórios”, que visa dinamizar o desenvolvimento regional, protegendo as florestas de Mata Atlântica que estão sendo restauradas na região, tendo como dínamo econômico o crédito de carbono.

O evento contou com o apoio e participação do ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos de Carvalho, além de representantes de agricultores familiares, comunidades indígenas, quilombolas e assentadas da região. O evento teve também participação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/GV), Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG/GV), Universidade dos Vales Mucuri e Jequitinhonha (UFVJM/TOT), Banco do Nordeste, entre outras organizações.

Evento contou com a presença de autoridades e lideranças regionais

Atualmente, o reflorestamento no Vale do Rio Doce é custeado pela Fundação Renova como medida de reparação pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. Entre outras organizações que vem atuando na região, somente o CIAAT vem restaurando milhares de hectares ao longo da bacia, atuando hoje em 15 municípios e em mais de 300 propriedades rurais. Ao final de todo o reflorestamento, a Fundação Renova deixará um legado de 40 mil hectares restaurados e reflorestados.

Nesse contexto, o CIAAT já se antecipa ao pensar e propor em um modelo para fazer a preservação das matas para quando a Fundação Renova não mais custear o processo.

O legado dos 40 mil hectares de florestas representa um patrimônio regional que precisa ser preservado. Além disso, constitui-se em um extraordinário potencial econômico quando se pensa no crédito de carbono, tido como a  moeda verde. Para aproveitar este potencial, estamos propondo a criação de um Conselho Consultivo de âmbito regional. Esse Conselho orientará as comunidades e os produtores, evitando que empresas ‘atravessadoras’ venham explorar proprietários de terra da região. Também vai criar condições para executar projetos de desenvolvimento com o capital arrecadado. Vale destacar que o Conselho será responsável por um Fundo, que custeará os projetos. O Conselho será o guardião dos recursos do Fundo o qual será auditado anualmente, para dar transparência e credibilidade ao processo”, explica Antônio Carlos Borges, coordenador executivo do CIAAT.

José Carlos de Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente, demonstrou satisfação com o projeto

 

Para custear o início dos trabalhos, para a captação de recursos, via crédito de carbono no Vale do Rio Doce, o CIAAT abriu mão de 3% de seus rendimentos relativos ao contrato assinado com a Fundação Renova, garantindo assim as despesas necessárias para dar o start ao projeto Acelerador de Territórios.

Ainda durante a reunião de apresentação da proposta, a pesquisadora Bruna Anair Souto Dias ministrou uma palestra sobre o mercado de crédito de carbono, uma medida de compensação ambiental que representa um mercado milionário e que também pode trazer recursos importantes para a região.

Vale destacar que este mercado ainda não é regulamentado e, infelizmente, existem grandes empresas agindo de má-fé. Os contratos de crédito de carbono são firmados por 30 anos, então precisam ser muito bem estudados, para que não prejudique os produtores da região. Este é o momento de nos unirmos, estudarmos juntos e de pensar no que queremos para a nossa região”, destacou a pesquisadora.

Pesquisadora Bruna Souto explicou sobre o mercado de crédito de carbono

 

Após as apresentações, o Cacique Baiara da aldeia Pataxó, localizada em Açucena, revelou que a comunidade dele já foi procurada por uma empresa interessada na compra de crédito de carbono, mas que ele não levou a conversa adiante. A aldeia Pataxó vem preservando cerca de 500 hectares de floresta jovem e plantando mais, deverá atingir em torno de 700 hectares até o ano de 2025. O depoimento reforçou a necessidade de entenderem mais sobre o assunto e pensarem em soluções coletivas.

José Carlos de Carvalho, ex-ministro de Meio Ambiente de Fernando Henrique Cardoso, decano ambientalista de reconhecimento internacional, atual consultor da Fundação Renova e conselheiro do Projeto Inhotim, demonstrou satisfação com a proposta e encorajou as lideranças presentes a organizarem o Conselho e darem início aos trabalhos.

O presente é feito dos sonhos e das obras do passado. São elas que nos trazem até aqui. E aquilo que nós sonharmos hoje é que vai projetar o futuro, por esse motivo tudo isso é fundamental. E o futuro é obra coletiva. Eu sou admirador do CIAAT porque aqui fazem isso de maneira muito bem-feita, juntar as pessoas para resolver os problemas”, afirmou.

Cacique Baiara Pataxó revelou que sua aldeia já foi procurada por empresa para tratar sobre crédito de carbono

 

José Carlos atuou na prefeitura de Governador Valadares, durante o primeiro governo de Hermírio Gomes, em 1975, à época era recém-formado em Engenharia Florestal, e por isso afirma que guarda um carinho especial pela cidade, sendo seu desejo ver um outro modelo de desenvolvimento para a região. Ele lembrou o histórico de devastação ambiental da região e como isso provocou a decadência econômica da região.

Eu passei o agosto de 1975 em Governador Valadares. Era uma catástrofe: as casas, as ruas, eram cheias de fuligem, porque o manejo do colonião era totalmente feito com fogo. O que estamos vendo hoje na Amazônia é uma repetição do que aconteceu há 60 atrás. Hoje a produtividade do Vale do Rio Doce é de 0,6 animal por hectare ao ano. Na década de 1970 era de 2,8 animal/hectare/ano. Quem sobrevive com essa renda? O latifúndio, porque quem tem mil hectares, mesmo com produtividade baixa consegue ter uma renda muito boa. Aí ele não gasta nada com investimento para restaurar, melhorar a pastagem, fazer piquete. Isso tem que ser a partir das bases, o que vocês estão fazendo. É a partir daí que vamos conseguir avançar. Não apenas por razão social ou ambiental, mas também econômica, porque os pequenos produtores terão a oportunidade de ganhar mais e viver com dignidade”, destacou o ex-ministro.

Lançamento do projeto contou com representatividade regional
Talvez você goste também: